quarta-feira, 31 de março de 2021

O acordo vai viger ou vigir?

 Depois de duas décadas de idas e vindas, o Mercosul e a União Europeia bateram o martelo. Vão formar a maior área de livre comércio do mundo. Ao falar no assunto, o secretário de Comércio Exterior disse cheio de entusiasmo: “Daqui a poucos anos, o acordo passa a vigir”. Ops! Tropeçou no verbo que faz estragos a torto e a direito. É viger, não vigir. Significa vigorar.


Defectivo, viger só se conjuga nas formas em que aparece o e ou o i depois do g. Por isso, não tem a primeira pessoa do singular presente do indicativo (vigo) nem o presente do subjuntivo (viga, etc.). Vigorar ou entrar em vigor as substitui com galhardia. No mais, viger flexiona-se como vender: vende (vige), vendeu (vigeu), vendia (vigia), vendera (vigera), venderá (vigerá), venderia (vigeria), vendesse (vigesse). E por aí vai: A lei vige. A medida provisória continua vigendo. Daqui a poucos anos, o acordo passa a viger.

O dicionário Houaiss já considera regular o verbo viger, seguindo a conjugação de proteger: protejo (vijo), proteja (vija), protejam (vijam). 

Abolir - conjugação

 Eu abolo comidas engordantes? É importante que eu abola alimentos engordantes? Ops! Olho vivíssimo. Abolir joga no time dos pra lá de preguiçosos. Defectivo, só se conjuga nas formas em que o l é seguido de e ou i. Eu abolo? Nem pensar! Que eu abola? Valha-nos, Deus! O boa-vida não tem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo (eu abolo) nem o presente do subjuntivo (que eu abola). Em ambas o l vem acompanhado de o. Xô! Os demais tempos se conjugam normalmente. Se a forma eu abolo não existe, a menos que você queira inventar uma nova regra para a gramática, podemos substituir por um sinônimo. Que tal usar 'eu elimino'?


Melhor prestar atenção à exigência do trissílabo. Assim: aboles, abole, abolimos, abolem; aboli, aboliu, abolimos, aboliram; abolia, abolias, abolíamos, aboliam; abolira; abolisse; abolirei; aboliria; abolindo; abolido.

Falir - conjugação

 Defectivo, falir só se conjuga nas formas em que não se confunde com falar. São aquelas em que aparece o i depois do l. No presente do indicativo, só o nós e o vós têm vez (falimos, falis). O presente do subjuntivo não existe, que é derivado do presente do indicativo. Os demais tempos conjugam-se normalmente: faliu, falia, falira, falirá, faliria, falisse, falindo, falido. Eu falo só se for do verbo falar.


Substitutos


As formas inexistentes podem ser supridas. O verbo quebrar é uma saída. A expressão abrir falência, outra.

Explodir - conjugação

 Parece filme de ficção. Quatro homens entraram na garagem de hotel cinco estrelas localizado a 750m do Palácio da Alvorada. Estavam de olho nos caixas eletrônicos. Renderam o segurança e… bummmmmmmmmm! Eles conjugaram o verbo explodir. O trissílabo é pra lá de preguiçoso, não apresenta a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo e nenhuma no presente do subjuntivo, mas o pretérito e o futuro são regulares. Se a forma 'eu explodo' é inaceitável, podemos substituir por um sinônimo: estourar, por exemplo. Defectivo, só tem as formas em que ao d se segue e ou i: explode, explodia, explodiu, explodira, explodirá, explodiria, explodisse.  E por aí vai. 


Modernamente, o verbo ganhou a primeira pessoa do singular do presente do indicativo (eu explodo). Tornou-se regular: eu explodo, ele explode, nós explodimos, eles explodem, que eu exploda, que ele, exploda, que nós explodamos, que eles explodam. Etc. e tal. Agora você pode falar 'e a gramática que se exploda'.

7 pedidos do Pai Nosso

 Lembra-se do Pai Nosso? A oração que o Senhor nos ensinou encerra sete pedidos. Leia: “Pai nosso que estais no céu / Santificado seja o Vosso nome / Venha a nós o Vosso reino / Seja feita a Vossa vontade / Assim na terra como no céu. / O pão nosso de cada dia nos dai hoje / Perdoai-nos as nossas ofensas / Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido / E não nos deixeis cair em tentação / Mas livrai-nos do mal. Amém”.


Oba! A prece diz o que pedir a Deus. Três súplicas se relacionam diretamente ao Todo-Poderoso. Uma: que Seu nome seja glorificado. Outra: que o Seu reino venha a nós. A última: que Sua vontade seja feita. Quatro se referem a nossos interesses pessoais. Pedimos: nosso pão de cada dia, o perdão dos nossos pecados, a vitória sobre as tentações, a distância de todo mal.


A língua ajuda o Pai Nosso. A prece ensina o que pedir. A língua, como pedir. O imperativo se presta à função. Saber empregá-lo como manda a norma culta traz dupla vantagem. Uma: acertar o alvo. A outra: receber a bênção de Deus e dos homens. São sete os passos.   Mande, peça ou suplique


Imperativo deriva de império. A família diz tudo. Trata-se de clã com poderes absolutos. Imperador, imperial e imperioso são alguns dos membros que mandam e desmandam. Às vezes, as criaturas têm de baixar a crista. Em vez de ordenar, pedem. Ou suplicam, aconselham, convidam, alertam ou recomendam. Em qualquer dos casos, o imperativo impera. Estamos falando do imperador do Japão, não do Adriano.   Sim e não


O imperativo joga em dois times. Num, libera a ação ou o modo de ser. É o afirmativo. Noutro, recusa. É o negativo. Pra não deixar dúvida, antecede as formas verbais de não.   Trate diferentemente os desiguais


O imperativo afirmativo exige atenção plena. Rigoroso, divide as pessoas do discurso em dois grupos. As segundas pessoas (tu e vós), preferidas dos gaúchos, ficam de um lado. As outras (ele, você, nós, eles), de outro. Nada de misturas.


“Tratar diferentemente os desiguais”, reza o mandamento do mandão. Como? Recorrendo ao presente do indicativo e do subjuntivo. O tu e o vós derivam do presente do indicativo. Mas esnobam o s final. Assim:


Presente do indicativo: estudo, estudas, estuda, estudamos, estudais, estudam. Imperativo afirmativo: estuda tu, estudai vós.


Simples, as demais pessoas não dão trabalho. Saem todas do presente do subjuntivo: que você estude, nós estudemos, eles estudem.


Eureca! Eis o imperativo afirmativo completo: estuda tu, estude você, estudemos nós, estudai vós, estudem vocês.   Negue


O imperativo negativo é curto e grosso. Sai todinho do presente do subjuntivo — sem tirar nem pôr. Pra não deixar dúvida, antecede-se do advérbio não. Veja: não estudes tu, não estude você, não estudemos nós, não estudeis vós, não estudem vocês.   Não misture


“Vem pra Caixa você também”, diz o anúncio da Caixa Econômica Federal. Reparou? Ele misturou alhos com bugalhos. O alho: o verbo se dirige à segunda pessoa (vem tu). O bugalho: o pronome você conjuga o verbo na 3ª pessoa (você). Que tal desfazer a mistura? Há duas saídas. Uma: optar pelo tu (vem pra Caixa tu também). A outra: assumir o você (venha pra Caixa você também).   Outra cara


“Se liga na revisão”, ordena o Novo Telecurso. Ops! Olha a salada de pessoas. O se é pronome de terceira pessoa. O liga, imperativo da segunda pessoa. Que indigestão! Vamos tratar bem a língua e o organismo. Escolhamos uma ou outra. Sem misturas: Te liga na revisão (tu). Se ligue na revisão (você).   Mais uma


“Diga-me com quem andas e te direi quem és”, alardeia o povo sabido. O problema? A mistura de pessoas. Melhor descer do muro. Assumamos uma pessoa ou outra: Diga-me com quem anda e lhe direi quem é você. Dize-me com quem andas e te direi quem és.   Moral da história


Você tem poder? Mande. Não tem? Peça. Ou suplique, convide, aconselhe, alerte ou recomende. Mas faça-o bem. A receita: cuide do imperativo, a não ser que você queira inventar uma nova regra para a gramática.

Verbos pronominais: aposentar-se & cia.

 O Congresso retomou as atividades. Com ele, voltou ao cartaz a reforma da Previdência e, claro, o verbo aposentar. O governo vai propor idade mínima para homens e mulheres se aposentarem.


Aposentar pertence a um grupo especial de verbos. Transitivos diretos, em algumas construções o sujeito e o objeto são a mesma pessoa. Aí, o pronome se impõe porque é o objeto exigido pela ação:


O INSS aposenta o trabalhador.


INSS é o sujeito. Trabalhador, o objeto direto.


O trabalhador se aposenta.


Trabalhador é o sujeito. Ele pratica e sofre a ação. O pronome se é o objeto direto.


Com as outras pessoas ocorre o mesmo:


Eu me aposento.


Ele se aposenta.


Nós nos aposentamos.


Eles se aposentam.


Outros verbos jogam no mesmo time. Eis exemplos: acender (alguém acende a luz, mas a luz se acende); apagar (alguém apaga a luz, mas a luz se apaga);  complicar (alguém complica a vida de outro, mas ele se complica); derreter (o calor derrete o sorvete, mas o sorvete se derrete); distrair (o palhaço distrai o público, mas o público se distrai); encerrar-se (o apresentador encerra o programa, mas o programa se encerra); esgotar (o repórter esgota a matéria, mas ele se esgota); estragar (o sol estragou a fruta, mas a fruta estragou-se); esvaziar (o líder esvaziou a sessão, mas a sessão se esvaziou); formar (o diretor forma a equipe, mas a equipe se forma; a universidade forma o aluno, mas o aluno se forma); iniciar (o presidente iniciou a sessão, mas a sessão se iniciou); casar (o padre casa os noivos, mas os noivos se casam).

Se + infinitivo? Depende

 “Não é o momento de se falar em flexibilização vertical”, disse o ministro. Ops! Tropeçou no pronome átono se. O pequenino só acompanha o infinitivo nos verbos pronominais (aposentar-se, formar-se, aprontar-se). No mais, não tem vez. Melhor mandá-lo plantar batata no asfalto: Não é o momento de falar em flexibilização vertical. Lugar bom pra morar. Trabalho difícil de fazer. Entre tantas versões, há de arranjar um meio de entendimento.


Com verbo pronominal, o se é pra lá de bem-vindo: Aproxima-se a hora de Celso de Melo se aposentar. Muitos alunos não vão se formar por causa da paralisação das universidades. Suicidar-se? Decisão de desesperados.

Toda Matéria - período composto por coordenação

 As orações coordenadas são orações independentes, ou seja, não há relação sintática entre elas. Elas são classificadas em dois tipos: oraçõ...